Roscoe Bartlett está pronto para o fim do mundo JOE RAEDLE/AFP
Catástrofes naturais, atentados terroristas, ataques atômicos. Tudo pode acontecer no mundo e há homens e mulheres prontos para sobreviverem ao pior dos cenários de caos e violência. Um dos seus mentores é um veterano congressista de Maryland. Ele já tem a sua cabana.
Bem no interior dos bosques da Virginia Ocidental, numa pequena cabana alimentada pela energia solar e eólica, um homem grisalho está a fazer uma visita guiada em vídeo, descrevendo técnicas de preservação de alimentos a longo prazo para o caso de "uma emergência".
"Não pensamos nisto hoje em dia, porque é tão conveniente ir ao supermercado", avisa. "Mas, sabem, é melhor planejar, porque o supermercado pode nem sempre estar ali."
A rede elétrica pode falhar amanhã, avisa o homem com frequência. A comida desapareceria das prateleiras. A água deixaria de correr nos canos. O dinheiro deixaria de ter valor. As pessoas podiam voltar-se umas contra as outras e milhões morreriam.
Este tipo de preocupação são típicas dos chamados "sobrevivencialistas", um movimento mundial de pessoas que defendem a auto-suficiência para fazer face a desastres naturais ou provocadas pelo homem. Na Net ou em pessoa, juntam-se em encontros para discutir as melhores maneiras para se prepararem para o pior.
O que é atípico é que o dono desta cabana seja Roscoe Bartlett, o veterano congressista de Maryland. Ao longo das últimas duas décadas, ganhou um grupo de seguidores por ser um dos primeiros políticos eleitos do país a defender o estado de prontidão para enfrentar a qualquer momento o juízo final, apelando inclusive aos mais de 80% de americanos que vivem em cidades para se mudarem.
"Há um número de acontecimentos que pode criar uma situação nas cidades em que a guerra civil pode ser muito provável", prevê Bartlett num documentário intitulado Urban Danger e onde ficamos a conhecer a sua cave. "E penso que aqueles que podem e aqueles que compreendem têm que tirar vantagem da oportunidade, enquanto estes ventos de discórdia não estão a soprar, e devem mudar as suas famílias para longe das cidades."
Bartlett, de 86 anos, é cientista, engenheiro e agricultor. As sondagens dizem que vai deixar de ser o segundo congressista mais velho dos EUA, já que enfrenta uma derrota certa nas eleições de Novembro.
Mas a possibilidade de uma derrota eleitoral não parece ter mudado o seu objectivo: alertar os americanos para um futuro carregado de perigos. No dia 30 de Setembro, quase um mês antes das eleições, vai estar em Spokane, no estado de Washington, no Norte dos EUA, a quilómetros de distância do seu distrito eleitoral, para dar uma conferência na Exposição de Prontidão Sustentável.
Bartlett, que recusou ser entrevistado para este artigo, reuniu-se recentemente com um grupo de "peritos sobrevivencialistas" no Congresso para apresentar uma proposta legislativa que apela "a todos os cidadãos para desenvolverem um plano de emergência para se prepararem para a ausência de assistência governamental de longa duração" e para as comunidades se tornarem capazes de fornecer 20% da sua energia, alimentos e água em caso de necessidade.
A rede eléctrica, todos concordaram, é vulnerável a desastres naturais e a ataques terroristas. "Esta é possivelmente a ameaça mais séria que os Estados Unidos enfrentam actualmente, porque estamos absolutamente mal preparados para ela", disse Richard Andres, professor catedrático na Universidade de Defesa Nacional.
A rede de energia pode ficar de rastos de quatro maneiras, explicou Bartlett: ataques terroristas em subestações eléctricas, ciberataques, uma enorme tempestade solar ou um ataque feito com um pulso electromagnético.
Lições de auto-suficiência
Durante décadas, Bartlett alertou para os perigos de um ataque EMP - uma detonação nuclear na atmosfera que poderia destruir computadores e tudo o que tivesse um circuito eléctrico - nos seus textos, em legislação e em discursos pela noite fora no Congresso. Mas os peritos divergem sobre a seriedade da ameaça, alguns considerando que o perigo é real, outros entendendo que um ataque destes é improvável e os seus potenciais efeitos permanecem uma incógnita.
Num outro encontro sobre energias renováveis, organizado pelo seu gabinete, Bartlett mencionou Um Segundo Depois, e perguntou: "Quantos de vocês leram o livro?" E voltou a fazer a mesma pergunta num evento recente no Congresso.