Resultados preliminares no Mali do primeiro teste de uma vacina contra o ebola realizado na África parecem promissores.
O primeiro voluntário no Mali foi o pediatra Seydou Sissoko, vacinado no dia 8 de outubro, na capital, Bamako. "Desde que eu recebi a vacina, me sinto bem. Não há diferença na forma de como eu me sinto agora e como eu me sentia antes", disse.
Dez outros agentes de saúde deverão receber mais vacinas nesta quinta-feira (6). O exercício faz parte de um grande estudo entre diversos países, iniciado no Reino Unido em setembro.
"Sabemos que depois de duas semanas eles estão começando a ter alguma resposta imune e não há reações adversas", disse Samba Sow, epidemiologista de doenças infecciosas e especialista em vacinas e diretor do Centro de Desenvolvimento de Vacinas (DCV, na sigla em inglês) no Mali.
O esforço envolve a OMS (Organização Mundial de Saúde), os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos e a farmacêutica britânica GlaxoSmithKline.
Especialistas esperam encontrar uma maneira de desenvolver a imunidade ao ebola, cujo surto já matou 4,8 mil pessoas na África Ocidental.
"O que me motivou a participar do estudo foi o fato de que sou médico e estarei regularmente em contato com pacientes (infectados pelo) ebola", disse Sissoko. "Primeiro, é para me proteger, e, depois, para ajudar a comunidade científica a encontrar uma boa vacina contra a doença."
Nesta semana, ele foi chamado para investigar dois casos suspeitos de ebola - um deles era de um homem que morreu depois de sangrar pela boca.
No início, a família de Sissoko estava preocupada com sua participação nos testes: "Expliquei à minha esposa e ao meu irmão como (o teste) funciona e agora eles estão tranquilos com isso. Mas eu não falei sobre isso com meus pais, porque acho que eles não vão entender".
No total, 40 voluntários estão participando do estudo em Mali - todos são agentes de saúde aptos a lidar com casos do ebola se a doença se espalhar pelo país.
Até agora, houve apenas um caso: uma menina de 2 anos de idade, que havia viajado para um dos países mais afetados, a Guiné, em outubro, e morreu da doença.
Samba Sow é outro voluntário do teste. "É uma vacina muito inteligente, por isso esperamos que, se a vacina funcionar, estaremos protegidos e não ficaremos assustados de fazer o nosso trabalho", disse ele à BBC enquanto era vacinado junto com outros nove voluntários.
Esse grupo de participantes recebeu o dobro da dose dada a voluntários anteriores. A ideia não é só investigar se a vacina provoca uma resposta imunológica, mas também descobrir qual é a dosagem eficaz.
As vacinas são mantidas em temperaturas de aproximadamente -80°C numa sala cujo acesso é restrito a apenas dois membros da equipe - e a geladeira é mantida trancada.
Sow explica que, ao contrário de muitas outras vacinas, que utilizam uma forma enfraquecida do vírus vivo, foi usado nesse estudo um vírus modificado de gripe comum que atinge chimpanzés, para transportar uma única proteína do ebola.
O vírus não é capaz de transmitir ebola, mas deve levar à produção de anticorpos contra o vírus. "O vírus do chimpanzé pode causar apenas um resfriado, mas não pode infectar alguém", disse ele.
Os voluntários são observados durante a primeira hora após a vacinação. Eles dão amostras de sangue antes do teste e depois de um dia, uma semana, duas semanas e 28 dias.
As amostras são processadas em um laboratório no centro de pesquisa. Os cientistas extraem células brancas do sangue - a parte do sangue que combate doenças - e observam-as em microscópio para ver se há uma resposta imunológica.
Elas são, então, enviadas à Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, para uma análise mais sofisticada determinar se há a imunidade contra o ebola.
"O que esperamos é ter essa vacina o mais rápido possível para que ela possa nos ajudar a controlar melhor a epidemia", disse Sow.
R7.com