“…a nossa região experimentou o tipo de evento que a maioria de nós gostaria de pensar que só acontece com outras pessoas, mas, neste caso, isso aconteceu conosco.” Theresa Wells, colunista do Fort Mc Murray Today Journal
O grande incêndio do Canadá, o maior desastre da história daquele país. Até o momento o evento está sendo considerado como ‘natural’, embora seja necessário deixar claro que a cidade é rodeada de jazidas de petróleo.
No entanto, diante dessa gigantesca situação caótica, que obrigou 100 mil pessoas a serem evacuadas em apenas sete dias, poucos se detiveram a pensar o evento de forma sobrevivencialista. Se fosse aqui, no Brasil, o que nós faríamos se passássemos por situação semelhante? Qual seria a repercussão em nossa vida? Sob quais as mobilizações ou não mobilizações estaríamos à mercê? Ou não estaríamos?
Para que você possa sentir um pouco dessa realidade assustadora, aconselho este
vídeo [2’57’’] produzido com composições de imagens, feitas ao longo da vias pelos fugitivos do incêndio. Mesmo estando em inglês, o vídeo nos dá uma ideia da situação geral e do terror vivido pelos canadenses.
Este outro
vídeo [1’36’’], (também em inglês) feito pelo jornal Fort Mc Murray Today, é uma tentativa de entrevista que transformou-se em um relato pessoal emotivo. A entrevistada é Gail Bibeau, que conseguiu fugir com sua filha e seu cachorro Cooper. O filho dela escapou pelo norte. Elas estavam na estrada em um trailer, tentando continuar a fuga, assim que os bombeiros isolassem o fogo que atingiu as rodovias. Gail conta como tudo aconteceu de forma extremamente rápida e que ninguém sabia exatamente o que estava ocorrendo. No princípio a evacuação começou calma, mais depois de alguns dias, com o aumento da fumaça, do calor e do fogo, que claramente avançava, o pânico tomou conta. “Minha casa? Provavelmente eu perdi. Mas estou com minha filha, meu cão e meu filho está a salvo. Acho que ficaremos bem”.
Durante as minhas pesquisas para os artigos, encontrei um único texto relacionado ao evento e pensado nas bases do sobrevivencialismo, apresentando cinco lições sobre o desastre, no site Prepper Universe. Por achar importante o assunto, fiz uma tradução livre, considerando a nossa realidade, e incluí algumas inserções por julgar importantes.
As cinco lições são:
#1) Pode acontecer com qualquer um, a qualquer momento. Sem exceções. Ponto final.
Da próxima vez que eu encontrar alguém dizendo que ele já vive em sua Bug Out Location e que não tem planos de fuga extra, vou até lá onde ele vive, escrever na testa do cara: “Você não pode viver em seu ‘plano B’ [sem ter OUTRO plano B], powww”. Por definição, um Bug Out Localização/local definido em um plano de fuga, é um lugar onde você vai quando o seu principal local de residência está comprometido e não é mais viável. No momento em que você está vivendo lá, já não conta como um lugar alternativo para ir, porque ele tornou-se o lugar onde você está vivendo. Isto é tão ridículo quanto acreditar que, quem já deixou as grandes cidades, não precisa mais se preocupar, porque só as cidades sucumbirão aos zumbis no próximo apocalipse.
O fogo, p.ex., não se importa se você vive na floresta, nos subúrbios ou no meio da cidade. Enquanto ele encontrar combustível, ele vai queimar TUDO, rural ou não. Os incêndios florestais espalham-se com velocidade terrível, inundações também não se importam com NADA à sua frente.
Conclusão: Não importa onde você mora ou quão bem preparada a sua casa é, sempre haverá a possibilidade de um desastre ou evento de força maior que te empurrará para fora de sua ‘zona de segurança’. E é para isso que você precisa bolar um PLANO B.
#2) Tic… Tac.. Tic… Tac… O tempo urge!
Ok, você poderá achar que tem alguns dias ou algumas horas para planejar e realizar a sua evacuação numa situação como essa do incêndio no Canadá. Só que às vezes é uma questão de minutos, segundos, e daí você não terá tempo de preparar fuga alguma. Você precisa ter um plano de fuga para um grande espectro de possibilidades bem ANTES do problema acontecer.
Imagine que, você não tem um plano pronto e treinado, e já está diante de um perigo iminente, o que você conseguiria fazer? Com sua casa em chamas, por exemplo, o máximo que faria seria fugir com praticamente NADA, literalmente apenas com a roupa do corpo, que pode muito bem ser seu pijama e que NÃO te aquecerá se a fuga for durante um inverno. O que pegar, se você só tem um minuto ou dois?
Agora, o que você jogaria no porta-malas de seu carro, se você tivesse muito pouco tempo de fuga, MAS um plano e uma preparação, tudo bem delineado e ensaiado com a família?
O tempo é um dos piores inimigos quando estamos correndo algum risco. Corte esse elemento preparando-se antecipadamente junto com os seus entes.
#3) Você poderá voltar para casa em questão de horas, dias, semanas, meses ou… nunca. Aceita que dói menos.
Você pode ter que fugir devido a uma tempestade que aconteceu e, depois de passado o perrengue, talvez você consiga estar de volta em casa no dia seguinte … ou não!
Imagine que a tempestade pode vir a se transformar em uma enorme enchente, ou vir junto com um furacão. Ou nada disso. Sua casa pode ter sido vista ‘abandonada’ após sua fuga da tempestade e, depois de dias, foi arrombada por um arrastão procurando coisas para roubar. Ou nada disso. Depois do excesso de aguaceiro, sua casa sofre a derrocada final, a pressão da água fez uma barreira local, feita para contenção de lixo tóxico, rachar cruelmente e derramar porcaria para todo o lado. E, tipo assim, destruiu completamente seu bairro, sua vizinhança e até sua cidade inteira, matando qualquer um que tenha ficado para trás e deixando um nada tão grande no lugar, que você não tem porque voltar.
Situação atual da pacata região rural de Bento Rodrigues após rompimento da barragem da Samarco.
Foto: Tadeu Vilani / Agencia RBS
Isso te fez lembrar alguma coisa? Pois é, algo assim aconteceu aqui, e foi bem do jeito ‘brasileiro’…
O ocorrido em Fort Mc Murray foi parecido, neste caso o desastre ambiental foi feito pelo fogo, e ele não deixou nada além do que um pedaço de terra carbonizada e cinza. E muito lixo e toxidade no ar…
Um furação, um tornado, uma enchente, uma
samarco, uma invasão… e, adeus ‘home, sweet home’. Conviver com essa possibilidade não é para deixar a gente paralisado. Nós não somos as nossas posses, já diria Tyler Durden. Não se apegar a bens materiais pode nos ajudar a seguir em frente, por isso é importante aprender o desapego. O importante é: VOCÊ estará VIVO? Então, a vida continua.
#4) Tenha kits organizados na base do “pronto para correr”!
A expressão “esteja preparado” não é uma palavra de ordem, mas um click mnemônico, um gatilho para você ficar “ligado” e conseguir se safar da pior merda que tiver sido jogada no ventilador.
Não tenha uma única mochila de 120 litros, como se você estivesse pronto para invadir o Iraque, como item de fuga exclusivo. Simplifique e tenha seus equipamentos separados por importância. Você pode ter uma BOB grande, mas tenha também uma menor no caso de você não poder levar uma mochila enorme e pesada, com toneladas de alimentos e munição.
É importante manter uma pequena bolsa, pochete ou pequena mochila com os seus documentos importantes, dinheiro, talvez um revólver. A ideia é mantê-la em seu cofre e, se nada mais puder ser feito, você só se preocupa em levar esta bolsa menor. Um único movimento e, FUGA!
Recentemente, uma avó juntamente com seus quatro netos afogaram-se no Texas, durante uma enchente. Ela não conseguiu nem mesmo fugir pela garagem da casa. Duvido que ela teria sido capaz de transportar uma hiper mochila [ainda mais tendo que se preocupar com QUATRO crianças!]
Imagine que talvez você tenha que ajudar outras pessoas a evacuar do local, ou haja pessoas feridas e/ou histéricas, talvez você mesmo tenha se machucado. Se você tem apenas alguns segundos para escapar, você pode até não ser capaz de levar uma única bolsa pequena, que seja! O que este conselho lhe dá é: tenha opções para trabalhar, planeje e se organize antes que algo aconteça.
#5) Tenha um veículo pronto para sair a qualquer momento.
Seu carro ou o seu BOV tem que estar funcionando. Pode ser uma questão de vida ou morte. E é melhor ter gasolina suficiente para se mandar do local. Isso também pode ser uma questão de vida ou morte!! Mesmo com um veículo perfeitamente funcional, sem ‘combustível’, você não vai a lugar algum. A lição aqui é: mantenha o tanque cheio ou semi cheio, quando chegar a ¹/³ ou ¼ de capacidade, tornar a completar. Também é legal manter combustível extra à mão [armazenado em galão próprio e em local seguro]. Não dá para ter um “veículo de fuga” na fazenda de seus tios ou próximo de uma cabana na floresta. Ele tem que estar pronto para fugir com os seus entes, e bem próximo de vocês, em sua residência atual.
Mantenha um kit de sobrevivência em ordem dentro do seu carro. Pode ser tudo o que te restará, se sua casa for destruída: roupa extra, comida, água, kit de primeiros socorros, cópias de documentos e o que você achar mais importante. Lembre-se de ter um carregador de telefone e talvez um telefone de reserva dentro do veículo.
Bem, e agora? Você já foi lá rever a sua mochila de fuga/BOB? Ja foi agendar a revisão de seu BOV? Sentou com a galera para planejar como vocês farão caso precisem sair correndo de casa por algum motivo?
A hora é essa. Mãos à obra! E.. salvem-se!
Lembre-se das rotas alternativas: numa fuga em massa, TODO MUNDO pensa a mesma coisa. Pense fora da caixa: bole um trajeto não convencional, e salve-se! (as estradas em Fort McMurray ficaram engarrafadas por dias e muitos carros foram pegos de surpresa pelo fogo)