Embate entre Coreia do Norte e EUA e teste com bomba de hidrogênio acendem sinal vermelho
Ministério da Defesa da Coreia do Sul em Seul mostra o sistema de mísseis do país
A escalada de tensão após os recentes testes feitos pela ditadura comunista da Coreia do Norte usando a mais potente arma nuclear – a bomba de hidrogênio – fez o mundo ficar em alerta sobre um possível confronto envolvendo principalmente os Estados Unidos.
Diante de dois líderes tão imprevisíveis e dos desdobramentos que essa guerra pode ter, os especialistas são unânimes ao afirmar que as consequências podem ser catastróficas e colocar em risco o futuro da humanidade.
De acordo com variáveis como a geografia do alvo, o tamanho da arma e a altura em que ela é lançada, a explosão e os incêndios de uma detonação nuclear matariam centenas de milhares de pessoas instantaneamente – e tantas outras morreriam envenenadas pela radiação, segundo o diretor da Nuclear Age Peace Foundation (Fundação para a Paz Nuclear, em tradução livre), Rick Wayman.
Os impactos ambientais mundiais também seriam significativos. “De acordo com estudos recentes, mesmo uma troca nuclear relativamente ‘limitada’ de cerca de cem armas nucleares do tamanho da de Hiroshima causaria uma fome nuclear global. As temperaturas despencariam por anos devido à fumaça e poderia também bloquear a luz solar, impedindo a maioria das pessoas de cultivar alimentos”, alerta Wayman.
Impactos
“Instalações médicas e infraestrutura serão destruídas, o que, de acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, tornaria impossível uma resposta médica de emergência”, diz o diretor.
Para outros especialistas, um par de bombas seria suficiente para devastar um país como os Estados Unidos, posto que destruiria os mercados financeiros e a internet.
De acordo com o Nukemap – ferramenta online que simula as consequências de uma explosão nuclear sobre qualquer ponto do planeta –, em Brasília, se disparada sobre o Eixo Monumental, a bomba teria um efeito devastador de mais de 170 mil mortes.
O poderio de destruição de todo o arsenal mundial seria capaz de tal estrago, diz Wayman. Mais de 15.300 armas nucleares estão em posse de nove países (EUA, Rússia, Reino Unido, França, China, Israel, Índia, Paquistão e Coreia do Norte), sendo mais de 90% deles concentrados nos EUA e na Rússia. E todos os países continuam se modernizando.
“Os Estados Unidos possuem aproximadamente 7.000 ogivas nucleares. Não sabemos quanto a Coreia do Norte tem, mas, provavelmente, não são mais do que dez. No entanto, uma vez usadas, é impossível prever como o conflito irá aumentar e se outros países se envolveriam”, avalia.
Brasil
De acordo com o membro da Comissão Brasileira Justiça e Paz e da Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares, Chico Whitaker, o país não estaria livre de ser afetado.
“Nesses casos, uma nuvem de partículas radioativas acaba passeando pelo mundo, dependendo dos ventos. No caso do acidente nuclear de Chernobil, em 1986, a nuvem radioativa cobriu a Europa inteira e, até hoje, algumas situações ressurgem. Por exemplo, no Norte da Itália, ocorreu uma invasão de javalis radioativos”, diz Whitaker.
“Além disso, a economia brasileira também seria negativamente afetada, caso a China e os Estados Unidos se envolvessem, pois são os principais parceiros comerciais brasileiros”, afirma ele.
EUA
O país investiu US$ 1 trilhão em um plano de 30 anos para criar ogivas nucleares e armas previstas para serem implantadas até 2080, segundo a Nuclear Age Peace Foundation.
Professor aposta na mediação dos conflitos
A soma de um líder norte-coreano inexperiente (Kim Jong-un) com um líder norte-americano reativo (Donald Trump) pode fazer um conflito local se transformar em um “incêndio”, alerta o professor de Negociação e Resolução de Conflitos da Fundação Getulio Vargas (FGV), Yann Duzert.
“A Coreia do Norte precisa mostrar ascensão, já que seu regime comunista está decadente. Ele precisa de orgulho, de ter a sua identidade reconhecida e se mostrar protetor do povo contra um inimigo fantasma – Coreia do Sul”, diz.
Duzert acredita nos mecanismos modernos de negociação baseados na gestão do risco da informação, a “newgotiation”. “Não é só alinhar interesses, é um jogo de xadrez. A técnica avalia a identidade, a cognição e a percepção de a e b”, afirma.
Minientrevista
Alex Wellerstein
Professor e historiador
Stevens Institute of Technology em Hoboken - EUA
É possível prever as consequências de uma guerra nuclear entre os EUA e a Coreia do Norte?
Há muitos futuros possíveis e todos são ruins. Mas acho que podemos dizer que essa seria uma das grandes tragédias do início do século XXI. Estamos falando de um conflito que poderia facilmente deixar centenas de milhares de mortos. As consequências ambientais provavelmente estariam limitadas às áreas de conflito. No entanto, as consequências econômicas, sociais e políticas poderiam se estender.
Como a comunidade internacional pode agir?
A ameaça norte-coreana não é única. Muitos países, mesmo os muito irresponsáveis, possuem armas nucleares. Quando a China adquiriu armas nucleares, eles eram tão ‘loucos’ quanto a Coreia do Norte é hoje. A resposta agora é: comprar tempo. Porque o tempo eventualmente levará regimes ruins a colapsar ou a mudar.
Em 2012, você criou o Nukemap, uma ferramenta online que permite ao usuário ver os resultados devastadores de uma detonação nuclear. Qual é o seu objetivo com esse projeto?
Até setembro de 2017, já foram 122 milhões de detonações virtuais. Essa ferramenta permite que as pessoas explorem o que as armas nucleares podem e não podem fazer – tudo isso é baseado em dados do governo dos EUA. O objetivo é tornar este tópico mais concreto para as pessoas.
Perceber que os riscos de armas nucleares são tão tangíveis não cria um alarde?
A realidade já é alarmante o suficiente. Penso que, assim, as pessoas estariam potencialmente mais envolvidas nos processos democráticos que envolvem essas armas.