Um dos maiores mistérios que ronda o vírus Ebola é a sua capacidade de permanecer escondido no organismo das pessoas que foram contaminadas por ele, dificultando a sua detecção pelo sistema imunológico.
Essa artimanha do vírus tornou-se muito clara na última semana quando a enfermeira Pauline Cafferkey foi internada em estado grave num hospital em Londres. Isso aconteceu 9 meses depois que os médicos disseram que ela estava totalmente curada do Ebola.
Vários especialistas disseram que o vírus, de alguma maneira, permanece no organismo da pessoa que foi infectada após a sua aparente cura, e que depois reaparece causando-lhes sérias desordens no seu sistema nervoso central. O exame do liquor dePauline confirmou a presença do vírus.
Os médicos agora estão entendendo que, ao dizer que o paciente está curado do Ebola, necessariamente não significa que o vírus foi totalmente erradicado do seu organismo.
Os doentes que foram curados do Ebola, como Pauline, estão apresentando sintomas como perda de visão e de audição, convulsões, insônia e dores no corpo que persistem por vários meses após o contágio.
O vírus, que é transmitido através dos fluidos corporais infectados, pode causar febre alta, diarréia, vômitos, dores de cabeça e sangramentos nos órgãos internos, e mata quase a metade das pessoas que o contraem.
Até o mês de outubro desse ano o Ebola já matou 11.312 pessoas, incluindo a epidemia de 2014, que rapidamente se espalhou pela região oeste da África e causou pânico na Europa e nos Estados Unidos.
Enquanto alguns sobreviventes se sentem sortudos por estarem vivos, muitos outros ainda estão sofrendo. Os médicos ainda estão descobrindo sobre os sintomas desagradáveis que podem surgir após a "aparente" cura dessa doença.
Uma das melhores fonte de informações que os médicos tem com relação a esses sintomas é o Dr. Ian Crozier, o médico americano que contraiu o vírus enquanto cuidava dos pacientes em Serra Leoa, em agosto de 2014. Numa recente conferência sobre doenças infecciosas realizada em San Diego, Crozier detalhou alguns dos sintomas que ele apresentou 40 dias depois de sua aparente cura noEmory University Hospital, em Atlanta.
O mais marcante desses sintomas foi um problema grave nos olhos, que começou aproximadamente 10 semanas após surgir os primeiros sintomas do Ebola, e que quase o deixou cego. Quando ele foi liberado do hospital, 10 semanas após o contágio, o vírus não havia sido mais detectado no seu sangue nem na sua urina, mas ainda estava presente no seu sêmen.
Ele apresentou dificuldade para andar, dores lombares, inflamação no tendão de Aquiles e sensação de agulhadas nos seus membros inferiores. Crozier também começou a sentir uma queimação em seus olhos, com uma sensação de presença de areia dentro deles, e muita sensibilidade à luz. Um exame revelou cicatrizes na superfície interna de seus olhos, e uma pequena hemorragia próxima a uma dessas cicatrizes no seu olho esquerdo.
Quase 1 mês depois esses sintomas se agravaram. Os médicos colheram uma amostra do fluido situado entre a sua córnea e o humor aquoso e essa amostra deu "positivo" para o vírus Ebola.
A sua visão do olho esquerdo continuou piorando, e em um ponto seu olho azul tornou-se verde claro. Além da mudança de cor, a pressão intra-ocular aumentou, e a forma de seu olho se alterou.
Problemas nos olhos não é incomum entre os sobreviventes doEbola. Aproximadamente 25% dos pacientes avaliados pelos médicos apresentaram alterações na visão.
Atualmente mais de 13.000 sobreviventes do Ebola estão sofrendo com problemas similares, tanto nos olhos como em outras partes do corpo. Conclui-se que ainda tem muita coisa a ser descoberta com relação a esse vírus e suas consequencias.