Brejo, na nossa cultura, nunca contou com boa reputação. No imaginário comum, ele aparece como paragem sombria e perigosa. “A vaca foi pro brejo”, diz nossa referência mais comum a esses capinzais alagados.
Essa visão, nos ensina a ciência, não poderia ser mais distante da realidade. O brejo tem função biológica imprescindível em muitas bacias hidrográficas ao funcionar como um filtro natural das águas. E tem mais: alguns deles abrigam grande beleza cênica e espécie raras.
Semana retrasada pude constatar isso com meus próprios olhos. Foi minha primeira incursão de verdade num belo brejo, um brejão, na verdade, dada a imensidão dos campos cobertos de capim navalha nas margens do Rio Formoso, um dos principais a correr pela Serra da Bodoquena, no Mato Grosso do Sul. Já trabalhei em muitas pautas na região, que tem na cidade de Bonito sua principal referência, mas, confesso, não sabia da imensidão e importância dos brejos locais, que ficam longe das áreas turísticas.
Meu objetivo era filmar e fotografar, debaixo d’água, uma das maiores espécies de cobra do planeta, a sucuri, uma gigante com até 10 metros de comprimento e corpo grosso feito um pneu de trator, dos grandes. A “expedição sucuri”, como a batizamos, foi montada pelos principais especialistas no assunto, Juca Ygarapé e Daniel de Granville. Além de conhecedores do comportamento dos animais e dos caminhos para chegar a eles, esses dois profissionais são talentosos produtores de imagens e, portanto, entendem perfeitamente as necessidades dos fotógrafos. A bordo, coordenando a pauta, estava a renomada jornalista Claudia Gaigher, com o desafio de mostrar a beleza das sucuris em ambiente subaquático, de forma a ajudar a desfazer, em rede nacional de TV, a fama injustificada desses animais. Sucuri, para muitos, é sinônimo de fera assassina.
Durante os dias de imersões no brejo, tivemos a sorte de vários encontros subaquáticos com uma fêmea de 7 metros! E ainda presenciamos um raro ataque dela a um macho bem menor. Valeu a pena passar frio e nadar exaustivamente para vencer a forte correnteza do rio.
A passagem foi rápida, é verdade. Mas suficiente para sentir o quanto são equivocadas as más famas de sucuris e dos brejos que elas habitam.