Sobrevivencialismo em grupo : Quem é o líder?
Depois de muita conversa e esforço você conseguiu montar um bom grupo de sobrevivência. Você procurou entre amigos e familiares e agora tem muita gente engajada na prática, chegou a hora de decidir como será o gerenciamento deste grupo, que afinal, como qualquer grupo que se preste precisa de algum controle, ainda mais em situações de crise, a pergunta é : Quem será o Líder?
A resposta é obvia, o mais capacitado! O mais carismático! O mais forte e poderoso! Todos e ninguém!
Pois é, nesta postagem vamos analisar o porque esta resposta é tão difícil e propor medidas para pessoas que estão formando grupos de sobrevivencialistas, se não agir com cuidado ao invés de um aliado você pode conseguir um terrível inimigo bem perto de você.
Formando grupos
O primeiro passo para qualquer um que quer formar um grupo é definir o perfil das pessoas que vão compor esta célula de sobrevivência, regras internas básicas e como será a gestão deste sistema.
Ora, se pensa em montar um grupo nômade precisará de um foco em treinamentos de campo, para um grupo que opere em base fixa as metas pessoais são diferentes. Resumindo, não adianta buscar pessoas com visões estratégicas totalmente diferentes para formar um grupo no inicio, embora, estas especialidades possam ser muito úteis em cenários específicos. Um exemplo de convivência organizacional onde cada um mantém seu foco é um condomínio.
Após formadas as regras de conivência um gestor é eleito ou contratado para manter tudo em ordem.
Outro exemplo de gestão é o de associação civil, um grupo inicial cria as regras de convívio e metas e abre para os demais interessados.
Um estudo mais amplo de crises em diversos países mostrou grupos que tiveram uma sólida experiência adotando outros sistemas, não tratamos óbvio de milícias organizadas fora da lei, mas grupos que operaram como unidades militares para sobrevivência comum. Nestes grupos há uma hierarquia fixa, ao contrário de votações democráticas ou eleiçoes.
Parâmetros Franceses
Um dos melhores sistemas que vi até hoje para gestão de grupos de preparadores veio da França e foi documentado por um grupo de mais de 40 famílias.
Neste sistema cada “casa” conta como uma unidade totalmente independente que se associa ao grupo para fins de ajuda mútua.
Trocando em miúdos, o grupo forma uma cooperativa de preppers.
Para entrar no grupo há uma taxa fixa de manutenção e alguns requisitos mínimos, como possuir suprimentos para 5 meses, e pelo menos uma pessoa da família ser capacitada em combate armado.
Embora cada casa seja autônoma há um acordo de proteção mútuo, de comercio e de trocas. No Dia a dia os preppers franceses trocam entre si equipamentos, produção excedente de hortas domésticas e fazem compras coletivas, também formam uma rede de proteção contra violência urbana, que nada mais é que um cuidar do outro.
Todas as famílias envolvidas aceitaram regras gerais por níveis de ameaça, e uma comissão eleita assume as decisões cotidianas ou indica quem coordenará ações específicas. No grupo que é multiprofissional equipes podem assumir a tomada de decisão de acordo com suas especialidades, médicos durante uma epidemia ou policiais e “combatentes” se a crise envolver violência.
Em 4 anos o grupo enfrentou alguns sustos e situações graves de forma sólida. dentre alguns relatos estão mobilizações para segurança mútua, mutirões para melhorias contra fatores climáticos e até a ajuda a um dos membros em dificuldades financeiras.
Além disso, com o dinheiro das mensalidades o grupo montou 6 hortas coletivas, um pequeno centro médico e custeia profissionais para os mais variados tipos de treinamento.
A regra mais forte da coalizão é que cada casa se mantenha integra em princípios de liberdade e igualdade e respeito das leis francesas.
De fato esta metodologia me impressionou muito e parte dela foi aplicada em meu próprio grupo, e embora não estejamos tão avançados, ou dedicados como os franceses a experiência tem sido muito gratificante.
A preparação mínima de cada unidade participante garante ao grupo segurança e tempo para tomada de decisões, o respeito a propriedade alheia garante que o estilo de vida de cada lar seja respeitado.
Por curiosidade o grupo francês de preparadores só aceita famílias com residência fixa onde nenhuma das pessoas tenha ficha criminal, prepers solitários não são aceitos. É cobrada uma mensalidade de 30 Euros, o grupo é sediado em Paris e conta com mais de 40 famílias divididas em 6 “distritos” ou núcleos.
Cada núcleo faz uma reunião mensal e todo grupo se reúne trimestralmente ou em convocações especiais. A administração é composta por um presidente, um vice, um tesoureiro e 7 “conciergerie”, concierges que atuam como secretários para assuntos específicos como segurança, medicina, treinamentos, compras, etc, todos são eleitos por 2 anos e assumem a liderança do grupo quando a crise é correlata a sua especialidade.
Sim, eu sei o que está pensando neste exato momento, a dificuldade que temos em encontrar um único parceiro local, quanto mais 40! Vale lembrar o quanto é forte o conceito de preparação fora do Brasil e que os Franceses assim como os americanos tem motivação governamental para suas preparações. O grupo Francês existe a 16 anos e fora alguns grupos similares a milícias civis que encontrei em minhas pesquisas é o mais bem documentado e adaptado para nosso país.
Que fique claro desde já, se vai formar um grupo em algum momento deve-se pensar em sua estrutura, esta postagem e seus exemplos são só um ponto inicial de discussão para talvez trazer alguma luz para quem está pensando em se misturar com outros preparadores e sobrevivencialistas de forma mais engajada, e está longe de ser uma regra ou condição pétrea.
É possível sim manter a integridade e a pessoalidade familiar em grupos de sobrevivência, afinal, aqui neste bunker quem manda é a patroa e nem eu nem meus filhos estamos dispostos a obedecer também a esposa do meu vizinho… embora muitas vezes quando ela dá uns gritos com ele, todos levantamos e vamos lavar a louça aqui em casa….
Abraços e deixem seus comentários valiosos!